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Cajus, Pitombas, Mangas & Amor




Olá gente!!

Tudo bem?!



O dia por aqui já começou, estou numa madrugada deliciosa, a qual funciono muito bem, ouvindo Coldplay  Paradise (Peponi) , produzindo, como estou fazendo agora, lendo, planejando e pensando muito, estudando também, a maioria das vezes... Para completar este "mundo paralelo" poderia acrescentar uma caneca com chá. 
Hoje estou inspirado a compartilhar um lindo texto que li, da super talentosa escritora Márcia Frazão, para ler, recomendo um pouco de sensibilidade, seria talvez um tanto óbvia essa minha observação, mas tudo bem! Vamos lá!



Texto, Textos autorais, Autoral, Autor, Márcia Frazão, Cajus, Pitombas, Mangas & Amor



20 de Outubro de 2009 às 08:49 (da autora)

No Piauí, as mulheres cheiram a fruta. As que estão tenras para as paixões, a caju; outras, quase prontas para o amor, a pitomba; e outras, maduras para o sexo, a manga. Mesmo com as vestes negras das viúvas, Raimunda cheirava a manga-rosa. Chegara na fazenda ainda mocinha, num tempo que cheirava a caju. Na trouxa dependurada num toco de pau, carregava dois torrões de rapadura que uma velha rezadeira lhe dera para repartir com o seu amor "num dia em que as pitombeiras florissem". Guardou-os com reverência e, vez por outra, os lambia, quando a solidão do agreste apertava. Era só. Solitariamente sozinha. Nascera de mãe que morrera e de pai que não conhecera. Dos irmãos não tivera tempo para sentir saudades. Sumiram todos na poeira da estrada quando ela ainda era um bebê sem fraldas. Aprendera a andar com a terra e os lagartos, e talvez por isso suas nádegas desenhassem tantas curvas. Cozinhou o primeiro feijão quando tinha cinco anos de idade e era ainda um broto de cajueiro. O feijão ficou tão gostoso, que naquele dia virou cozinheira. A fama correu léguas e bateu na porteira de nossa fazenda. Foi recebida sem pompas. Encolheu o pescoço, mirou o chão e desapareceu lá pelas bandas dos subalternos. Não fazia barulho. Os lagartos não fazem ruídos. Deixava, porém, um rastro de cheiro, um contorno de curvas. Mas os lá da banda dos senhores não viam. E assim despercebida foi virando muda de pitombeira. As ventas de Antônio se abriram, e ele, por amor às pitombas ou por pura gulodice, passou a regá-la diariamente. A pitombeira cresceu e virou uma mangueira frondosa que dava mangas com gosto de rapadura. Durante anos, Antônio chupou-as com a sofreguidão dos famintos. Um dia, talvez pelo sol que ardia em demasia ou pelo desejo de consumi-las até a exaustão, Antônio morreu de bucho cheio. Morreu com os dentes enterrados numa manga-rosa madura. 



Marcia Frazão 

Este texto foi extraído do livro "Amor se Faz na Cozinha", publicado pela Editora Bertrand.




Aos meus queridos leitores, espero muito que tenham gostado, me contem se gostaram! Beijo grande e até a próxima! (;




Obs.:Todas as imagens deste post são uma reprodução da internet. Se caso você ver uma imagem sua ou de sua autoria, neste blog, sinta-se a vontade em pedir para retirar que prontamente o farei. Grato.





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